terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre o Coringa do filme O cavaleiro das Trevas

A felicidade é uma mentira!
E a mentira é salvação!*

Há muito tempo, quando eu assisti ao filme Batman - O Cavaleiro das Trevas, ou apenas O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight) de Christopher Nolan. Notei um certo destaque. Tá, um grande destaque para o personagem do Coringa (Heath Ledger). Acho que todo mundo notou isso, ainda mais com a repercussão da morte do ator depois do filme, e algumas associações (eu fiz esse tipo de associação) entre a encarnação com a 'loucura' do coringa e o fato de Heath Ledger ter supostamente cometido suicídio. ESCLAREÇO: não sei a versão final pra morte dele, mas lembro de boatos sobre ele ter se matado.
Mas voltando ao personargem, ele claramente rouba a cena do próprio Batman (Christian Bale) que está realmente fraquinho como o 'Morcego'. Assim, o Coringa e seu "Why so serious?!?" Porque tão sério? torna-se um vilão quase impar, um personagem que cativa pela ironia, pelo sarcasmo de suas falas, de sua estória. Eu de certa forma sabia que havia algo além neste personagem, só que não tinha descoberto ainda.

Dia desses encontrei a venda um livro de Slavoj Zizek, filósofo, sociólog e etc, esloveno, do qual eu conhecia apenas uma entrevista que ele concedeu ao programa Roda Vida, não lembro agora de que emissora. Mas este livro, que prontamente comprei, trata do cinema: Lacrimae Rerum, ensaios sobre o cinema moderno, que ele escreveu em 2006. A edição nacional é de 2009, e consta de um prefácio escrito pelo próprio Zizek, também em 2009. O prefácio entitula-se: Hollywood hoje: notícias de um front ideológico, no qual o autor faz algums comentários sobre alguns filmes recentes e a carga ideológica presente em cada um. Entre eles, encontra-se O Cavaleiro das Trevas, e um enfoque sobre o personagem do Coringa.

Sob essa inspiração, eu escrevi um ensaio para a disciplina de Tópicos especiais em filosofia, sobre a relação entre Arte, Cinema e Sociedade, fazendo um pequeno paralelo entre a crítica de Walter Benjamin, e o texto de Slavoj Zizek. Deste ensaio, reproduzo a seguir um parágrafo sobre a importância ideológica do personagem Coringa, do Cavaleiro das Trevas, na sociedade contemporânea:


"[...] Mas mais interessante ainda para o presente estudo é a análise de Zizek ao filme Batman - O cavaleiro das trevas, de Christopher Nolan. Há quatro personagens de destaque: o próprio Batman, o cavaleiro noturno; o comissário Gordon, um chefe da polícia; o promotor Harvey Dent, um agente do combate ao crime; e o Coringa, o supremo vilão. No desenrolar da trama, Harvey Dent acaba se corrompendo e cometendo alguns assassinatos, Batman e o comissário Gordon, que havia simulado a própria morte, precisam então preservar a imagem de Dent, responsabilizando o próprio Batman pelos crimes, o transformando agora no inimigo público de Gotham City. O que há de comum entre estes personagens? Todos estão baseados na mentira. Todos precisam mentir. Batman mente a identidade, o promotor mente ser o Batman e o comissário mente a própria morte. O Coringa, por sua vez, tem um um objetivo muito claro: seus crimes pararão quando Batman retirar a máscara e se revelar. Zizek se pergunta se o Coringa teria em mente a convicção de que a revelação da verdade destruiria a ordem social? Ou seja, os três personagem do lado da justiça, precisam mentir para evitar que o caos se espalhe. Enquanto o Coringa, que talvez pode ser visto como o oposto psicológico, a personificação da pulsão de morte de Batman, quer apenas revelar a verdade. Assim, Zizek coloca a pergunta: Porquê a sociedade atual precisa da mentira para continuar estável ?[...]"


É isto aí. Está bem compacto e sucinto o que escrevi, mas o que vale é a pergunta: por que precisamos da mentira para mantermos a ordem? Por que precisamos nos esconder atrás de máscaras para que possamos conviver em sociedade? Ficam as perguntas, que alguém tente a resposta...

* Natália - Legião Urbana

2 comentários:

  1. Eu falando em Keith Monkey e você sobre Coringa, quase em sincronia!

    Seu post reavivou a pergunta que andou me atormentando nos últimos dias: por que me sinto mais fraca e mais vulnerável sempre que revelo algo que julgo importante sobre mim?

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  2. Pois bem, notei a relação, mesmo que, quando postei aqui já tinha lido seu texto, entretanto a idéia é anterior.
    Quanto à sua pergunta: é muito mais fácil a gente sustentar uma estrutura que não é nossa. A proximidade com algo o torna mais valoroso e consequentemente mais dolorosa a perca do controle desta estrutura.
    ...
    Eu acho! hehe

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